lunedì 26 marzo 2012

Morreu Tabucchi, o escritor italiano que escolheu Portugal


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Por Sérgio B. Gomes, João Pedro Pereira, Nicolau Ferreira



O escritor italiano Antonio Tabucchi morreu de cancro, em Lisboa, aos 68 anos. Tabucchi tinha uma longa ligação com Portugal e era considerado um dos nomes maiores da literatura europeia.

Autor de livros como “Afirma Pereira” (1994), obra premiada e que foi adaptada ao cinema com Marcello Mastroianni no papel principal, e "Notturno Indiano" (1984), era também professor de Língua e Literatura Portuguesas na Universidade de Siena.

Um último livro de Tabucchi, "O Tempo Envelhece Depressa", será editado no próximo mês pela Dom Quixote.

Nascido em Pisa, em 1943, cresceu numa pequena povoação próxima daquela cidade. Filho de um comerciante de cavalos, estudou línguas e filosofia, antes de decidir viajar pela Europa. Em Paris, na Sorbonne, descobriu, traduzida para francês, uma colectânea de poemas de Fernando Pessoa (que incluía a "Tabacaria"), por cuja obra se apaixonou, decidindo estudar português para melhor compreender o poeta.

Tabuchi conhecia Portugal desde os 22 anos e considerava-o o seu "país de adopção". É autor de ensaios sobre o trabalho de Pessoa e, com a companheira, Maria José de Lencastre, traduziu e dirigiu a edição italiana dos textos do autor.

“Veio a Portugal no princípio dos anos 60, conheceu vários portugueses, entre os quais Alexandre O’Neill, de quem ficou muito amigo. A partir daí nunca mais perdeu de vista Portugal. Casou-se com uma portuguesa”, recordou Maria da Piedade Ferreira, a primeira editora de Antonio Tabucchi, então na Quetzal, e que recentemente voltou a trabalhar com o escritor na Dom Quixote.

O livro “Afirma Pereira", um romance político sobre um jornalista português em finais da década de 1930 que vivia alheado da ditadura salazarista, valeu-lhe dois prémios italianos – Via Reggio e Campiello – e o prémio internacional Jean Monet.

Em 1991, escreveu, directamente em português, o romance "Requiem. Uma alucinação", que se passa em Lisboa e no qual um autor italiano se encontra com o espírito de um poeta português já morto.

Segundo Maria da Piedade Ferreira, a cultura portuguesa está muito reflectida na primeira fase da obra do autor, principalmente o Portugal anterior ao 25 de Abril. “Toda a obra dele está ligada a Portugal.”

“Tabucchi foi um embaixador da cultura portuguesa na Itália e na França”, acrescentou, dando como exemplo o caso da editora Christian Bourgois, que publicou os seus livros em França e que começou a editar a obra de Fernando Pessoa no final da década de 1980.

Entre outras obras, Antonio Tabucchi escreveu uma comédia teatral sobre Pessoa. Recebeu o Prémio Médicis, por “Notturno Indiano”. “Pequenos equívocos sem importância”, “Une baule pieno di gente”, “Os últimos três dias de Fernando Pessoa”, “A cabeça perdida de Damasceno Monteiro” e “Está a fazer-se cada vez mais tarde” são outros títulos do autor.

Segundo Maria da Piedade Ferreira, o último livro de Tabucchi, ainda por publicar, é um conjunto de nove histórias que estão relacionadas “com a passagem do tempo, com a memória”. Nos próximos três anos, a Dom Quixote vai lançar onze livros de Tabucchi, entre novidades e reedições, avançou a editora.

O autor escrevia regularmente na imprensa e era um acérrimo defensor da liberdade de expressão. Em 2009, foi processado pelo presidente do Senado italiano, Renato Schifani, na sequência de um artigo publicado no jornal "L'Unità", no qual o escritor se colocara ao lado de um jornalista que, no mesmo jornal, notara que os perfis sobre Schifani não mencionavam as ligações do político a pessoas condenadas por laços à máfia. O processo acabou por não ser concluído.

No ano passado, o escritor cancelou a sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil, como protesto pela decisão da justiça italiana de não extraditar o italiano Cesare Battisti, um ex-activista de extrema-esquerda condenado em Itália a prisão perpétua, e que foge da justiça italiana há 30 anos. Em 2010, Tabuchi tinha também cancelado a particpação, na sequência de uma decisão do então Presidente brasileiro, Lula da Silva, que usara poderes presidenciais para evitar a extradição de Battisti.

Tabuchi estava internado no Hospital da Cruz Vermelha. O funeral irá decorrer na próxima quinta-feira, em Lisboa.


Notícia actualizada às 16h12. Notícia corrigida às 17h21.


O nome da editora é Maria da Piedade Ferreira e não Maria Piedade Pereira, como estava escrito. Data da publicação do livro "Afirma Pereira" alterada de 1993 para 1994.

Os livros de Antonio Tabucchi
1975 - "Piazza d'Italia"

1981 - "Il Gioco del Rovescio"

1983 - "Donna di Porto Pim e Altre Storie"

1984 - "Notturno Indiano"

1985 - "Piccoli Equivoci Senza Importanza"

1986 - "O fio do Horizonte"

1987 - "Os Voláteis do Beato Angélico"

1988 - "Chamam ao Telefone o Sr.Pirandello"

1988 - "O Tempo Aperta"

1991 - "L'angelo Nero"

1992 - "Sonhos de Sonhos"

1992 - "Requiem. Uma alucinação"

1994 - "Afirma Pereira"

1994 - "Os três últimos dias de Fernando Pessoa"

1997 - "A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro"

1997 - "Marconi, se bem me lembro"

1997 - "A Gastrite de Platão"

2000 - "Os Ciganos e o Renascimento"

2003 - "Está a Fazer-se cada Vez mais Tarde"

2003 - "Tristano Morre"

2012 - "O Tempo Envelhece Depressa"

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