mercoledì 20 giugno 2018

ANGELA DE CHIRICO e o seu "encontro" com Antonio Tabucchi


A nossa aluna de nível avançado ANGELA DE CHIRICO brinda-nos com um belíssimo trecho de prosa ficcional sobre o seu "encontro" com António Tabucchi.
Obrigado, Angela!



É meia-noite. Estou no Cemitério dos Prazeres em Lisboa.
Estou aqui porque queria encontrar Antonio Tabucchi. Sei bem que ele morreu em 2012, estudei a sua obra e a sua vida com muita paixão.
Sei todavia que ele permanece na área entre a terra e as estrelas, onde se encontram os fantasmas.
Ele falou muito das almas e da confederação das almas e eu terei certamente  a oportunidade de  lhe  fazer uma pergunta que há muito tempo tenho guardada.
Não vou enganar-me, como o Narador da sua obra Requiem, que pensa encontrar o Convidado, Pessoa, ao meio-dia.
Os fantasmas aparecem à meia-noite e, de facto, ele está aqui neste momento. Usa os óculos e fuma incontáveis cigarros como fazia sempre em vida. Dois homens estão com ele. Eu conheço só o primeiro que é, óbviamente, Pessoa. O outro não sei quem seja, mas não estou interessada nele. Estou aqui só por Tabucchi.
Alguém me disse que ele era um grande cozinheiro e eu queria que ele cozinhasse para mim um dos seus pratos.
Ele nunca gostou da "nouvelle-cousine" e comeria todas as noites massas italianas ou o portuguesíssimo caldo verde . Convida sempre os seus amigos fantasmas que se congratulam com ele e comem tudo com grande felicidade.
Ama os ingredientes da comida mediterrânea, que implicam uma grande criatividade, não como a cozinha francesa, que tem as ostras e o bechamel e por isso não é difícil fazer um bom prato.
Eu timidamente faço a pergunta: "Posso comer convosco uma das suas especialidades?".
Ele olha-me com a sua forma de olhar tão característica e observa-me com ironia. Diz: "Faça o favor!". Os outros fantasmas põem a mesa enquanto ele cozinha. Depois comemos um excelente bacalhau espiritual. Sinto-me muito feliz. De repente ele diz a Pessoa: "Vamos! Tenho um encontro com outros amigos na Rua da Saudade  antes da madrugada!".
Eu volto-me e não o vejo mais.
Foi tudo só um sonho? Não sei. Mas há diferença entre o sonho e a realidade? Não tem importância, penso eu... não quando falamos de Tabucchi.

ANGELA DE CHIRICO 


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